sábado, 7 de novembro de 2009

João Antônio e Rubem Fonseca


No texto A Nova Narrativa, presente no livro A Educação Pela Noite e Outros Ensaios, o crítico Antônio Cândido discorre a respeito da ficção produzida nas décadas de 60 e 70. Ele comenta o fato de alguns contistas se destacarem pela “penetração veemente no real graças a técnicas renovadoras, devidas, quer à invenção, quer à transformação das antigas”.

Os escritores João Antônio e Rubem Fonseca são considerados dignos de menção. Do primeiro, Cândido exalta a coletânea Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), considerada “vigorosa”, e o conto longo Paulinho Perna-Torta (1965), alçado à categoria de obra-prima, não só do autor, mas de toda a literatura brasileira. Sobre o conto longo, o crítico afirma: “Nele parece realizar-se de maneira privilegiada a aspiração a uma prosa aderente a todos os níveis da realidade, graças ao fluxo do monólogo, à gíria, à abolição das diferenças entre falado e escrito, ao ritmo galopante da escrita, que acerta o passo com o pensamento para mostrar de maneira brutal a vida do crime e da prostituição”.

Rubem Fonseca é equiparado a João Antônio quanto ao estilo de seus escritos, chamado de “ultra-realismo sem preconceitos”. Cândido aventa a hipótese de que ambos foram os propulsores de uma das tendências em voga da ficção contemporânea, denominada “realismo feroz”. Assim o crítico caracteriza a prosa de Rubem Fonseca e, por extensão, a de João Antônio: “Ele também agride o leitor pela violência, não apenas dos temas, mas dos recursos técnicos — fundindo ser e ato na eficácia de uma fala magistral em primeira pessoa, propondo soluções alternativas na seqüência da narração, avançando as fronteiras da literatura no rumo duma espécie de notícia crua da vida”.

A afinidade entre os autores, contudo, parece ser meramente literária. Segue trecho de carta de João Antônio ao amigo Mylton Severiano, datada de 22/04/81 e publicada na biografia Paixão de João Antônio (2005), da autoria de Severiano:


“Não se esqueça de ler a matéria das páginas amarelas de Status de abril. Ali se vê como foi tramada a chamada revolução de 64 para ‘pôr ordem na casa’, A tal ordem que levou este país a 160% de inflação por ano. Bem. Entre os implicadores e implicados estão Rachel de Queiroz, Odylo Costa, filho, e José Rubem Fonseca, o mesmo que escreve contos de Feliz Ano Novo, livro supercensurado em 1976 e pelo qual 1.076 assinaram manifesto publicado pelo Jornal do Brasil.


Ora, a esta altura, Rubem Fonseca e os próprios homens do sistema, inclusive o ministro Armando Falcão, deveriam estar rindo dos babaquaras e ingênuos...

A chamada comunidade lítero-artística aqui do Rio parece ter encafifado com o desmascaramento. Eu, não. Policial pra mim é policial. E Rubem Fonseca foi delegado de polícia, antes de ser um dos principais elementos da Light, ainda canadense. Era o sexto homem da Light no Brasil. Logo, policial vitorioso”.




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